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Fragilidade da economia se acende em apagão no Amapá

dezembro de 2020


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Escrito por: Thiago Oliveira

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3 min



Acordo cansado e vou direto ao banheiro. Quase institivamente aperto o interruptor na parede e sigo para lavar o meu rosto. Ao me olhar no espelho, não enxergo nada. Pego meu celular que deixei carregando enquanto dormia, desbloqueio a tela e vejo ter apenas 10% de bateria. Então, digo: “Alexa, toca um Rock” para ver se animo a minha manhã escura, mas nada acontece. Peço para tocar música outra vez e, finalmente, percebo que estou em um energia elétrica.

Ficar sem luz é horrível! A gente já está tão habituado em viver com ela que quando acaba, não sabemos direito o que fazer. Já pensou ficar 22 dias assim?

Foi o que aconteceu com o apagão no Amapá nas últimas semanas. Inclusive, esta foi a motivação que o governo precisou para retirar a isenção da Imposto de Operações Financeiras, o IOF, da conta de luz dos moradores locais. Porque, sim, eles iam pagar por não ter energia.

Como funciona o sistema de eletricidade no Brasil?

Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), o sistema elétrico brasileiro é dividido em: Geração, Transmissão, Distribuição e Comercialização.

Geração é quando as geradoras produzem energia elétrica (no Brasil, a principal fonte de de geração é a hidrelétrica (62%), seguida da termelétrica (28%) e o restante proveniente de energia eólica e de importação de outras países.

Transmissão é a responsável por trazer a energia elétrica das matrizes geradoras até as subestações próximas das cidades.

Distribuição é a entrega da energia elétrica nas nossas casas.

Comercialização é quando um intermediário tem autorização de comprar e vender energia para os consumidores livres, no caso, aqueles que precisam de energia em grande quantidade.

Fonte: Reprodução/Aneel

E a economia entra onde?

Desde já, imagine que existam cinco operadoras de luz no mesmo bairro que o seu, duas estações de metrô e quatro encanamentos trazendo água à sua casa. A princípio seria uma bagunça geográfica, não é mesmo?

Na economia, tratamos esses setores como monopólio natural. Basicamente, são empresas que por terem custos fixos muito altos, ficam inviáveis de competirem uma com a outra.

Se fossem 100% livres, elas escolheriam quem e como atender, deixando o restante da população taxada a preços altíssimos, ou, simplesmente sem cobertura.

Por isso, o governo intervém e deixa esses serviços nas mãos de estatais ou em concessões, as quais garantem, em teoria, o acesso ao produto com valores acessíveis.

Logo, é daí que vem a explicação do apagão no Amapá.

Só para ilustrar, o mapa abaixo representa a malha elétrica brasileira. Consegue encontrar o erro?

Foto: Reprodução/Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)

No Amapá existe uma única linha de transmissão a qual deve permanecer até 2027. É como se o apagão no Amapá já estivesse em contagem regressiva para acontecer.

Para completar a fragilidade do serviço elétrico, esta região do Brasil sofre com o pagamento sobre as perdas no serviço. Sendo que no Norte, vários estados passam de 40% enquanto o Sul e Sudeste, dificilmente passam de 10% de perdas.

Existe solução rápida?

Infelizmente, nos casos de monopólio natural, a privatização não resolve muito. Ela diminui as chances de erro, por existir um menor conflito de interesse, mas no fim, será sempre um funcionamento em conjunto entre o governo e a empresa. Inclusive, a do Amapá é privada.

Por fim, para resolver este problema é preciso de boas instituições e contratos de concessão bem formulados com uma boa cobrança sobre eles. Algo, visivelmente, não tão rápido e bastante burocrático.

Por hoje é só. Não se esqueça de apagar a luz quando sair.



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