O assunto de hoje é economia comportamental. Mas, para isso, precisaremos voltar no tempo e imaginar que ainda é 24 de dezembro.
Já passam das 23h e falta pouco para contagem regressiva da ceia de Natal. Você está ansioso para comer todas as delícias que passou o ano inteiro à espera.
Enquanto toma um drink e conversa com a família, a fome surge. De repente, alguém coloca um pote de amendoim bem à sua frente.
Sua reação é óbvia: alcança o petisco, pega um punhado e devora tudo rapidinho.
Antes de repetir o movimento, você sente o cheirinho da comida ainda no forno e faz uma breve reflexão: “Se eu comer todo o amendoim, não vou conseguir comer muito no jantar”. Sim, a ceia de Natal é muito mais saborosa e, com certeza, vai maximizar a felicidade de suas lombrigas se não devorar mais nenhum amendoim e aguardar pelo jantar.
Porém, é inevitável! Você olha para o amendoim, ele olha pra você e o imagina falando: “Come mais um pouquinho. Não vai perder o seu apetite”.
Na terceira vez, você percebe que precisa tomar uma atitude e só possui duas opções:
- Pedir pra alguém guardar o amendoim;
- Mudar de lugar pra ficar mais longe e ser mais fácil de resistir, certo?
Bom, racionalmente a gente teria outra opção: entender que você quer comer bastante no jantar e, por isso, resistir à tentação vai ser melhor a saída.
Aí você me questiona: “Mas Nayra, o que a ceia de Natal tem a ver com economia comportamental e por que você está contando tudo isso?”.
Richard Thaler explica
A verdade é que este exemplo que eu dei não é nem de longe uma ideia minha. “A bowl of cashews” é uma história contada pelo economista Richard Thaler, no livro “Misbehaving – The Making of Behavioral Economics” (traduzido como Comportamento Inadequado: A Construção da Economia Comportamental).
Esta brincadeira do pote de castanhas, presente na obra de Thaler, é uma forma de mostrar como somos menos racionais do que imaginamos, apesar de saber o que queremos. Afinal, é muito fácil desviar do planejamento com tantas tentações imediatas.
Parece algo simples, mas foi com base nesta teoria que surgiram estudos importantíssimos na economia comportamental, como nudges ou também conhecida como arquitetura da escolha. Isto foi essencial para o início de outros estudos realizados por Thaler, ganhador do prêmio Nobel de Economia, em 2017. Quem quiser ver a apresentação, está aqui, chama-se: “From Cashews to Nudges: The Evolution of Behavioral Economics”.
Efeito nudge
A partir do exemplo da ceia de Natal é possível identificar o nudge na ação.
Se alguém da sua família percebe que você está devorando todo o amendoim antes do jantar, o nudge acaba por ser o ato de tirar o aperitivo da sua frente. Ou seja, a pessoa está te ajudando a fazer uma coisa que você já queria fazer. Ela te dá um “empurrãozinho” para você fazer a coisa certa.
Repare que no exemplo lá de cima eu coloquei você tirando o amendoim da sua frente. Sabe por quê? É mais doido ainda você se ajudar a fazer a coisa certa.
Sabe quando você se compromete em guardar X% do seu salário por mês? Aí chega o pagamento e você rapidinho já separa esta quantia antes de gastar tudo? Então, este é outro exemplo clássico da mesma teoria aplicada em finanças comportamentais. Conseguiu perceber a semelhança?
Eu vou te dar mais um conceito de nudge que coloquei na minha vida.
Não é novidade que eu gosto de acordar cedo para treinar. Porém, apesar de gostar muito, não é tão fácil assim acordar em torno de 5h30 da manhã todos os dias. O quarto escuro sempre me convida para dormir mais um pouquinho. E pior, todas as vezes que eu fico dormindo, passo o dia arrependida depois. Pra me ajudar nesta escolha diária, eu instalei uma lâmpada que acende bem na minha cara, na hora exata que o meu despertador toca.
E você, o que faz para se ajudar?